sábado, 21 de outubro de 2017

Por onde anda Gert Schinke - Matéria de Jessica Rebeca Weber



Por onde anda Gert Schinke, o ecologista que "tomou" a chaminé do Gasômetro

Depois do protesto de 1988, integrou a política partidária e mudou de Estado

Jéssica Rebeca WeberJÉSSICA REBECA WEBER, 06/10/2017

Ronaldo Bernardi / Agencia RBSGert Schinke (E) ao subir a chaminé do GasômetroRonaldo Bernardi / Agencia RBS

Na foto em preto e branco, datada de 17 de agosto 1988, Gert Schinke faz sinal de paz e amor junto à escada que leva ao topo da chaminé do Gasômetro. O ecologista sorridente estava no meio de um protesto pela preservação da orla, empreitada que pararia Porto Alegre naquela quarta-feira — ele e outros integrantes da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) subiram o cartão-postal de 124 metros de altura. Lá, penduraram uma faixa contra uma proposta que estava para ser votada na Câmara Municipal: "não ao projeto Praia Guaíba". 

Vinte e nove anos depois, Schinke preserva o bigode, o cabelo penteado para a direita e o hábito de dar trabalho para autoridades — agora, no lado de lá do Rio Mampituba. Baseando-se principalmente no seu livro, O Golpe da Reforma Agrária: Fraude Milionária na Entrega de Terras Em Santa Catarina, publicado em 2015, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão na Secretaria de Agricultura e Pesca de Santa Catarina e no Centro de Informática e Automação do Estado de SC em agosto. Foram recolhidos microfilmes e papéis com registros antigos da reforma agrária — o Ministério Público Federal (MPF) pretende investigar se foram distribuídas áreas da União de forma irregular.

Schinke, 61 anos, mudou-se para Florianópolis há 23 anos, depois de ajudar a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980 e atuar por um mandato como vereador em Porto Alegre — foi eleito em 1988. Ele largou o PT ainda durante o mandato, ficou um ano no PV e, depois, passou a integrar o PSOL. Mora na praia de Pântano do Sul, em uma casinha com "tudo muito modesto e ecológico".

— Vim para Florianópolis com o sonho de morar na beira-mar. Estava um pouco desgastado com Porto Alegre, quis procurar outros ares — justifica. 

Na capital catarinense, começou a se envolver nas lutas contra latifúndios e a fazer pesquisas, usando os até então pouco explorados conhecimentos da formação em História, na UFRGS. Em 4 de setembro, lançou a segunda edição do livro. Também trabalha em uma publicação sobre os cinco séculos de ocupação territorial de Santa Catarina. 

Arquivo Pessoal / Arquivo PessoalArquivo Pessoal / Arquivo Pessoal

Mas um dos maiores orgulhos de Schinke segue sendo a "tomada da Chaminé" — como a Agapan chama o protesto de 1988. Ele lembra da excitação e da ansiedade no dia da ação, quando fizeram crachás de imprensa para enganar o guarda que estava no Gasômetro. Além de cair na lorota, o homem ainda colocou uma escada no pé da chaminé para lhes dar acesso. 

— Depois que entramos, "tava" pronta a coisa. Veio a imprensa, militantes começaram a chegar, a Brigada negociando (para descerem). E nós lá em cima, colocando as exigências em potes plásticos de maionese Hellmann's e jogando pra baixo — conta, aos risos. — Éramos os donos do pedaço. 

O projeto condenado pelos manifestantes previa a construção de um shopping, um hotel, um centro de convenções e prédios comerciais e residenciais junto à orla do Guaíba. O texto acabou passando na Câmara, com algumas modificações, mas Schinke acredita que o protesto no Gasômetro foi essencial para a preservação da área do Parque Marinha do Brasil. Diz que o ato colaborou para a eleição de Olívio Dutra (PT) como prefeito na sequência.

— O Olívio ganhou a eleição, e, junto com ele, dois vereadores ecologistas da Agapan. Colocamos na mesa dele que, caso efetivasse o zoneamento como aprovado na gestão anterior, tomaríamos atitudes drásticas. No meu caso, deixei bem claro: deixaria o partido e migraria para a oposição. O que de fato ocorreu três anos depois, por inúmeros outros motivos.

Comparando a área ao Central Park, de Nova York, ele se envaidece:


— Conseguimos salvar o Marinha. Ele não existiria mais.



https://www.google.com/url?hl=en&q=https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2017/10/por-onde-anda-gert-schinke-o-ecologista-que-tomou-a-chamine-do-gasometro-cj8gbwel900a101qnymj77at4.html&source=gmail&ust=1508669050666000&usg=AFQjCNGvqYWq0xbV9P_i26Fwmtxa-YRpSw

sábado, 23 de setembro de 2017

Artigo de Fabio Bispo- Notícias do Dia - MPF investiga fraude imobiliária em programa de reforma agrária em Santa Catarina





Pesquisa embasa ação que investigará mais de 16 mil títulos de terras entregues pelo extinto Instituto de Reforma Agrária, o Irasc
FÁBIO BISPO, FLORIANÓPOLIS
23/09/2017 10H29 - ATUALIZADO EM 23/09/2017 ÀS 10H40


O preço de um pedaço de terra em Florianópolis assusta o trabalhador médio. A construção civil lamenta a estagnação do mercado e o que chama de “entraves ambientais”. A população cresce acima da média nacional. Enquanto o turismo se consolida como vocação - a magia do lugar atrai milhares a cada temporada -, cada metro quadrado é disputado palmo a palmo. As administrações destacam o bom IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Mas a fila nas pontes já não anda nos horários de pico. E lá se vai mais de uma década de discussões de um Plano Diretor que não sai do papel. O caos urbano contrasta com um passado não tão distante. Em 1970, por exemplo, o censo do IBGE contabilizou 5.984 toneladas de mandioca, 53.390 cachos de banana, 55.640 galinhas e mais de um milhão de litros de leite de vaca. Tudo produzido numa paisagem agropecuária já não mais visível. Uma época em que nem todo mundo tinha título sobre as próprias terras.
No Pântano do Sul, duas grandes porções de terras foram parar nas mãos de construtoras - Flávio Tin/ND
No Pântano do Sul, duas grandes porções de terras foram parar nas mãos de construtoras - Flávio Tin/ND


No meio deste intervalo de tempo que transformou a rotina rural da cidade em destino turístico e moldou a geografia dos bairros está o extinto Irasc (Instituto da Reforma Agrária de Santa Catarina). Foram 15 anos de forte atuação em um programa que deveria promover a reforma agrária e combater grandes latifúndios. No entanto, ao que tudo indica, boa parte das 980 áreas repassadas pelo órgão foi para pessoas que não se enquadrariam nos critérios exigidos para fornecimento dos títulos. Segundo documentos anexados à ação civil pública movida pelo MPF (Ministério Público Federal), as terras da reforma agrária acabaram servindo à especulação imobiliária, ampliando patrimônio de noradores e empresas ou distribuídas entre pessoas “influentes” dentro do órgão que concedia os títulos. A lista de beneficiados mostra inclusive funcionários do Irasc como beneficiários.
Em 15 anos de atuação, entre 1962 e 1977, o Irasc assumiu a tarefa de identificar e distribuir as terras devolutas do Estado “com atenção especial a áreas devolutas posseadas por agricultores”, conforme diz o texto da lei 2.939/1961 que criou o órgão. Nesse período, foram 16.055 glebas de terras transferidas em todo o Estado, sendo a maior parte no litoral. Em Florianópolis foram concedidos 980 títulos que regularizariam a posse de 30,6 km² somente pelo Irasc. Outros 421 títulos foram emitidos após a extinção do órgão, através da Colecate (Coordenação de Legitimação e Cadastramento de Terras Devolutas), sendo 25 deles na Capital.
Os documentos do Irasc descansaram durante anos nas gavetas do arquivo do governo do Estado sem que ninguém questionasse o possível esquema para burlar as exigências da legislação que criou o instituto em 1961. Durante anos, o órgão funcionou praticamente como um cartório de títulos, concedendo áreas nos recantos da Ilha ou em qualquer lugar do Estado. Glebas imensas foram repassadas a pessoas das mais diversas áreas de atuação e profissões (militares, funcionários públicos, advogados, comerciantes, etc).
O caso veio à tona após estudo de cinco anos do historiador e ecologista Gert Schinke. Pesquisador independente, ele garimpou os escaninhos do arquivo público e levantou mais de 44 mil títulos de terras devolutas repassadas pelo Estado desde 1870. O levantamento revelou que 37% das áreas do Estado foram repassadas a terceiros num curto período de quase 20 anos, que inclui o Irasc e a Colecate.
O caso veio à tona após estudo de cinco anos do historiador e ecologista Gert Schinke - Marco Santiago/ND
O caso veio à tona após estudo de cinco anos do historiador e ecologista
Gert Schinke - Marco Santiago/ND
A pesquisa encontrou uma série de indícios de fraudes que resultaram no livro “O golpe da reforma agrária: fraude bilionária na entrega de terras em Santa Catarina”. O documento também foi entregue aos órgãos de controle do Estado no MP-SC (Ministério Público de Santa Catarina) e MPF. A primeira edição foi lançada em 2015 e em agosto de 2017 a pesquisa foi ampliada e relançada em segunda edição.
O estudo nomina 1.098 requerentes de terras do Estado através dos três principais órgãos que administraram o patrimônio de terras devolutas do Estado. As listas também apontam cruzamentos de dados mostrando quanto dos beneficiados com terras estão entre os maiores devedores do município.
O maior cartório de títulos do estado
A análise de Gert Schinke sobre os documentos agora apreendidos pela Justiça Federal aponta que mais da metade das terras entregues pelo Irasc em Santa Catarina foram para pessoas que não tinham relação com a reforma agrária. A situação fica ainda mais complicada quando se percebe que muitas pessoas receberam mais de uma gleba de terra. Na Capital, Gert cita o caso de uma família que recebeu cinco glebas, totalizando mais de 1,6 milhão de m² em áreas no Pântano do Sul, Lagoinha do Leste e Saquinho. Outras duas pessoas receberam sozinhas seis glebas nos Ingleses e Pântano do Sul e 92 pessoas foram contempladas com mais de uma porção de terra na cidade.
O número 291 da rua Felipe Schmidt, no Edifício Zahia, primeiro endereço do Irasc, era uma verdadeira máquina de emissão de títulos de terras. Outra atribuição que o órgão tinha por lei, mas que nunca foi cumprida, era o levantamento das terras devolutas do Estado.
Em 15 anos, o Irasc manteve uma média de 4,3 títulos emitidos por dia útil. Só entre 1972 e 1974, período em que o órgão concentrou 41% das emissões, chegou à média diária de dez concessões de terras por dia.
No plano estadual, o professor aponta registros de uma indústria de açúcar que recebeu 11 glebas de terras em Navegantes e outras 47 em Balneário Piçarras. “Não se tratava, por óbvio, de uma empresa colonizadora, como no século passado, restando a dúvida de por que se entregou essa imensa quantia de glebas a uma empresa privada”, questiona.


Um dos campeões em benefícios concedidos pelo Irasc, segundo os documentos, é um empresário gaúcho que amealhou aproximadamente 3,27 km² de terras em Garopaba em seis glebas consecutivas tituladas pelo órgão da reforma agrária. Os motivos apresentados ao órgão para requerer um título eram os mais diversos.
Pedia-se terras públicas para lazer, construção de moradia permanente, ampliação de áreas contiguas e até mesmo para lotear, como aponta laudo do Irasc com data de 1º de setembro de 1972 no qual o técnico do órgão diz que terras requeridas já estavam “preparadas para loteamento”. “Era uma verdadeira corrida ao pote de ouro, preenchia-se o requerimento, levava-se ao Irasc e rapidamente se obtinha um título da terra. Isso não valia apenas para demarcar os territórios ou influenciar na especulação imobiliária, mas servia também como garantia para se conseguir altos empréstimos nos bancos”, afirma Gert Schinke.

Loteamentos surgiram em terras da reforma agrária

Chama a atenção o destino que teve boa parte das glebas que representam os 30,6 km² distribuídos pelo Irasc em Florianópolis. No Pântano do Sul, duas das maiores porções entregues no distrito passaram anos depois para as mãos de construtoras que pretendem implantar projetos com a previsão de ofertarem cerca de 800 lotes. A estes projetos soma-se outro empreendimento com mais de 100 hectares, na praia do Matadeiro, que ocuparia cinco glebas de terras também entregues pelo Irasc.
Alguns dos títulos também foram destinados para associações, igrejas, clubes de futebol e órgãos públicos. Um desses casos é o da Associação 19 de Março, que recebeu uma área de 643,9 mil m² no “Pontal”, em 23 de janeiro de 1968. Em cinco anos a Câmara de Vereadores aprovou o loteamento. Dez anos mais tarde, o loteador recebeu o título definitivo da área que hoje é conhecida como Daniela.

Os 69 do Rio Tavares

Caso mais curioso ocorreu no Rio Tavares, onde a transação de terras teve início no Irasc e terminou no órgão sucessor, a Colecate, que assumiu a administração das terras devolutas entre 1978 e 1980. Segundo os registros levantados por Gert Schinke, a Associação Jardim Rio Tavares, formada por 68 professores universitários e um servidor da UFSC, adquiriu terras distribuídas para a reforma agrária com a intenção de formar um loteamento.
O título da associação foi assinado em 1980 e na época o grupo pleiteou junto ao Estado o descumprimento da cláusula 4ª do título, que vedava alienação fundiária por no mínimo cinco anos. O pedido não foi atendido, segundo o consultor-geral do Estado na época, Laerte Ramos Vieira, por considerar o processo como “estranha transação triangular”.


Estado quer ficar com documentos históricos
No último dia 21 de agosto, a Justiça Federal autorizou a apreensão dos 283 rolos de microfilmes e das 300 caixas de documentos armazenadas no Ciasc (Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina) e na Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca. A operação deflagrou o primeiro passo da investigação sobre as denúncias apresentadas por Gert Schinke e que estão anexadas à Ação Civil Pública.
Segundo o procurador federal João Marques Brandão Néto, os documentos não estavam corretamente acondicionados e o objetivo agora é fazer a digitalização do material apreendido e disponibilizá-lo em um banco de dados público. “Esse trabalho deverá ser feito pelo Estado e pela SPU [Secretaria de Patrimônio da União], já que há relatos de que terras da União também estão envolvidas. Alguns dos arquivos apreendidos datam do século 19. Este é um trabalho minucioso que também demandará tempo”, afirmou. Pretende-se também realocar a estrutura física dessas bases para recintos adequados, nos quais possam ser armazenadas segundo os critérios da legislação específica.
A Procuradoria-Geral do Estado promete recorrer da busca e apreensão no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) alegando que a ação inviabilizou a realização de diversos serviços públicos em Santa Catarina, como verificação de documentos para emissão de patrimônio, pesquisa sobre posse e propriedade e até mesmo pesquisas acadêmicas. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) determinou uma auditoria interna sobre a cadeia dominial das áreas.
SERVIÇO
“O golpe da reforma agrária: fraude milionária na entrega de terras em Santa Catarina”. Livro de Gert Schinke. Editora: Insular. 629 páginas, R$ 70
Distribuição de Glebas pelo Estado desde 1870 até 1980>


27.759 – Entre 1870 e 1960
16.055 - Irasc (1962-1977)


421 - Colecate (1978-1980)


Total: 44.235






sexta-feira, 8 de setembro de 2017

SOBRE O LANÇAMENTO DA 2a Ed do GOLPE DA REFORMA AGRÁRIA

O LIVRO DENÚNCIA QUE A GRANDE MÍDIA DE SANTA CATARINA QUER ABAFAR!
Editora Insular e nosso querido e corajoso editor e jornalista: NELSON ROLIM

(por Gert Schinke)
Pessuali;
Foi uma noitada memorável na qual tudo deu certo. Bom público, boa vendagem e, acima de tudo, ENORME DIVERSÃO, além da cultura com a mesa-redonda, que foi de altíssima qualidade.
Numa esquete teatral de início, encarnei o 007, inclusive com acompanhamento de fundo musical do tema base dos filmes do "espião mais famoso do mundo", arrancando risadas do público, pois ele estava atrás dos documentos do IRASC e, pasmem, "não encontrou um título destinado à Sua Majestade na Ilha de Santa Catarina", kkkkkkkk Mais absurdo, impossível...
O livro ficou um verdadeiro colosso de redondas 630 páginas, agora vendido ao valor de 'somente' R$ 70,00. Quando eu mesmo vendo, fico com a metade desse valor, o que é um ótimo negócio, pois recupero uma fração dos custos que tive para produzi-lo.
Em 'estado de graça',
Gert















domingo, 27 de agosto de 2017

Lançamento da 2a Edição de O Golpe da Reforma Agrária- Mesa Redonda- Notícias da Operação de Apreensão de documentos do IRASC pelo MPF

Livro de autoria de Gert Schinke, O Golpe da Reforma Agrária, denuncia com base em documentos do IRASC, as fraudes nas concessões de terras feitas durante o regime civil militar.
Antes de esgotada a primeira edição do livro, Gert já trabalhava na coleta e análise de mais documentos para aprimorar e aprofundar ainda mais o estudo sobre a questão agrária em Santa Catarina.
Seu primeiro livro tem sido utilizado como base a diversos processos sobre terras no estado e motivou o MPF realizar uma operação no dia 21 de agosto de 2017 para recolher todos os documentos (entre documentos em papel, mapas e microfilmes) na Secretaria da Agricultura e da Pesca e no Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina (CIASC) para garantir sua integridade e providenciar a digitalização dos mesmos, algo que não interessa ao Estado, pois quanto menos informações sobre a origem de titulação de terras, tanto melhor, vez que o Estado foi pivô no caso das fraudes em questão.


Gert participou da operação, já que sabedor da localização dos documentos. Fotos e matéria do site do MPF-SC abaixo.


O lançamento da 2a Edição


LOCAL: UDESC-FAED - no Auditório Tito Sena
               Av. Madre Benvenuta - Itacorubi
DATA: dia 4 de setembro
HORA: 19h


Realização de debate sobre as questões fundiárias no estado.


Fotos da operação realizada pelo MPF-SC


















MPF realiza busca e apreensão em órgãos do governo do estado de Santa Catarina

Objetivo é garantir integridade de documentos que comprovam distribuição de terras em Santa Catarina
Fotos: Divulgação/MPF/SC
O Ministério Público Federal em Santa Catarina (MPF/SC) realizou nessa segunda-feira (21), em Florianópolis, busca e apreensão na Secretaria da Agricultura e da Pesca e no Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina (CIASC), arrecadando 283 rolos de microfilmes e 300 caixas de documentos.
A busca foi comandada pelos procuradores da República André Tavares Coutinho e João Marques Brandão Néto, com auxílio da Polícia Federal e de servidores do MPF. Por se tratar de execução de ordem judicial, a operação também foi acompanhada de oficiais de Justiça. A ordem judicial partiu do magistrado Marcelo Krás Borges, da 6ª Vara Federal, em Ação Civil Pública assinada pelo Procurador da República Eduardo Herdt Barragan.
A operaçãose destina a arrecadar documentos produzidos pelo extinto IRASC (Instituto de Reforma Agrária de Santa Catarina), por causa da suspeita da existênciadeterrenos da União que teriamsido 'grilados', devidoa participação, na década de 1970, do IRASCna concessão de diversas glebas também na Ilha de Santa Catarina. A grilagem teria reflexos nos dias atuais.
O objetivo principal da busca e apreensão é transpor todo o conteúdo dos dados da base ou suporte físico em microfilmes para o meio digital, a fim de se resguardar a integridade das informações e, ainda, permitir a sua livre e gratuita acessibilidade por qualquer interessado, haja vista cuidar-se de fatos relacionados com bens que integram o meio ambiente (inclusive cultural) e o patrimônio público.
Pretende-se também realocar a estrutura física dessas bases para recintos adequados, nos quais elas possam ser armazenadas segundo os critérios da legislação específica, indispensáveis para a guarda e a manutenção desse tipo de informação. Esse acervo constitui uma fonte de inestimável valor histórico, cultural e jurídico, contendo todas as informações cadastrais de teor patrimonial-fundiário do estado de Santa Catarina.
O material tem relevância estratégica importante, não só por ser o meio indispensável para garantir que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (da União e do Estado de Santa Catarina, sobretudo), bem como o próprio Ministério Público, possam fiscalizar a licitude e a legitimidade das cadeias dominiais de cada uma das milhares de glebas cedidas pelo IRASC, como também por consistir no instrumento prioritário (fonte material ou corpórea) para quaisquer futuras pesquisas em diferentes áreas do conhecimento humano, tais como Direito, História, Antropologia, Sociologia, Geografia, Ciência Política, Economia, Estatística e Jornalismo.
Instituto - O IRASC foi criado pela Lei Estadual nº 2.939, de 9.12.1961, tendo por objetivo a reforma agrária, promovendo, grosso modo, a distribuição de terras públicas para facilitar o acesso aos agricultores necessitados, anular o latifúndio improdutivo, impedir a concentração da propriedade imobiliária com fins especulativos, como instrumento de opressão e servidão rural, proporcionar melhores condições de vida à população rural e atender às exigências do bem comum, assim como o desfrute máximo da área cultivada. (Fonte: SCHINKE, Gert - O Golpe da Reforma Agrária: Fraude Milionária na entrega de terras em Santa Catarina. Florianópolis/SC, Editora Insular, 2014, pgs. 25, 152-201).