quinta-feira, 4 de outubro de 2012

FEEC DIVULGA COMPROMISSOS DOS CANDIDATOS À PREFEITURA DE FLORIANÓPOLIS EM RELAÇÃO À INÉDITA ‘PLATAFORMA ECOLÓGICA’



EMENTA: A FEEC apresenta o resultado da consulta  sobre a ‘plataforma ecológica’, que consultou os candidatos à Prefeitura da capital sobre 67 itens.

A ‘plataforma’ é constituída por 67 DIRETRIZES, DEMANDAS E AÇÕES, as quais são subdivididos em 8 temas, a saber: PLANEJAMENTO URBANO – 10; ENERGIA – 2; SANEAMENTO – 9; MOBILIDADE – 14; ECONOMIA – 5; EDUCAÇÃO – 2; ÁREAS PROTEGIDAS E BIODIVERSIDADE – 16; GESTÃO – 9.

Todos os seis candidatos à Prefeitura de Florianópolis receberam ao longo do dia 25.09.12, mediante recibo aposto ao ofício da FEEC, o questionário contendo as 67 questões, assim como as regras para o retorno, que, entre outros quesitos, exigia o prazo da resposta até o dia 28.09.12, às 20h.

Dos seis candidatos na disputa, cinco responderam a consulta no prazo hábil e na forma exigida, assinalando ao lado de cada questão o seu compromisso para com a mesma, sendo que apenas uma candidata não respondeu à consulta feita pela FEEC – Ângela Albino, do PCdoB em coligação.

É a primeira vez que o procedimento é realizado pela entidade em uma campanha eleitoral, e, dado o sucesso dessa forma de consulta, a FEEC pretende inaugurar uma tradição em torno dela a partir dessa eleição. Em função da receptividade obtida junto aos candidatos, faremos nova consulta sobre essas mesmas questões aos dois candidatos que passarão para o segundo turno, caso ele venha a acontecer.

O gráfico abaixo ilustra o conjunto dos compromissos assumidos pelos candidatos em relação ao conjunto das questões da plataforma, e o arquivo anexo a esse release, contem o conjunto consolidado das questões com as respostas de cada candidato.

Gert Schinke - Coordenador Geral

FEEC – Federação das Entidades Ecologistas Catarinenses
Contatos: e-mail - coordfeec@gmail.com ; 
Telefones: (48) 3324.0581, 8424-3060
















Barry Commoner e Eric J. Hobsbawm



Ambientalista Barry Commoner morre aos 95 anos


 O biólogo norte-americano Barry Commoner, considerado um dos fundadores da ecologia moderna, morreu no último domingo (30), em Nova York, aos 95 anos. Commoner nasceu no Brooklyn em 28 de maio de 1917. Graduou-se em Zoologia pela Universidade Columbia e fez mestrado e doutorado em Harvard. Após servir como tenente na Marinha dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, mudou-se para Saint Louis, onde foi professor de fisiologia vegetal na Universidade Washington por 34 anos. Em 1966, fundou o Centro de Biologia de Sistemas Naturais na universidade, para estudar “a ciência do meio ambiente total”.
“Commoner foi um líder em uma geração de cientistas-ativistas que reconheceu conseqüências danosas do boom de tecnologia pós-Segunda Guerra e foi um dos primeiros a alimentar o debate nacional sobre o direito do público de compreender os riscos e tomar decisões sobre eles”, destacou o jornal New York Times em obituário.

O trabalho de Commoner a respeito dos efeitos globais da radioatividade promovida por atividades nucleares, com destaque para o registro das concentrações de estrôncio 90 nos dentes de milhares de crianças, contribuiu grandemente para a adoção do “Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares”, assinado por mais de 100 países em 1963. A partir dali, Commoner se tornaria um dos mais conhecidos ambientalistas do mundo, autor de livros que se tornaram best-sellers, como The Closing Circle (1971) e The Poverty of Power (1976). Em 1970, ano do primeiro Dia da Terra, a revista Time colocou Commoner em sua capa, com o título Ambientalista Barry Commoner – A Emergente Ciência da Sobrevivência.
A popularidade e o engajamento em causas ambientais e sociais o levaram a concorrer à Presidência dos Estados Unidos, pelo Partido dos Cidadãos, em 1980. Commoner obteve 234 mil votos na eleição que foi vencida por Ronald Reagan.
Um dos grandes legados de Commoner foi publicado em The Closing Circle e ficou conhecido como as Quatro Leis da Ecologia: “Tudo está interligado; Tudo deve ir a algum lugar; A Natureza sabe melhor; Não há almoço de graça” (em tradução livre).
“Commoner acreditava que poluição ambiental, guerra e desigualdades raciais ou sexuais deveriam ser tratadas como assuntos relacionados a um problema central”, apontou o New York Times, que ressaltou o papel do ambientalista como crítico do capitalismo.
“Não acredito no ambientalismo como solução para coisa alguma. O que eu acredito é que o ambientalismo ilumina as coisas que precisam ser feitas de modo a resolvermos juntos nossos problemas”, disse Commoner. (Fonte: UOL)

Homenagem a ‘hobs’

Intérprete incansável do século 20

Sem teorizações intrincadas ou narcisismo autocomplacente, soube equilibrar distanciamento e engajamento crítico

ELIAS THOMÉ SALIBA - O Estado de S.Paulo – 02.10.12

"O perfil do bom historiador não pode se parecer nem com o carvalho nem com o cedro, por mais majestosos que sejam, e sim com um pássaro migratório, igualmente à vontade no ártico e no trópico - e que sobrevoa ao menos a metade do mundo." Ao escrever isso em 2002, Eric J. Hobsbawm talvez estivesse descrevendo a própria trajetória, que se encerrou na manhã de ontem, em Londres, onde o historiador morreu aos 95 anos, vítima de uma pneumonia.
Nascido em Alexandria em 1917, de família judaica - pai do East End londrino e mãe da Áustria dos Habsburgos -, passou a infância em Viena, ficou órfão aos 14 anos e foi morar em Berlim com uma tia, entrando para o Partido Comunista alemão (KPD) ainda no fim do curso ginasial. Após a ascensão de Hitler, foi para Londres onde concluiu os estudos secundários. Em 1936, na febre da Front Populaire em Paris, perambulou na carroceria de um caminhão do cinejornal do Partido Socialista; depois cruzou a fronteira para a Catalunha, logo no início da Guerra Civil espanhola.
Nos anos da 2.ª Guerra Mundial integrou a divisão do Exército britânico que cavava trincheiras, atuando ainda como tradutor no setor de inteligência militar. Quando concluiu seus estudos, pagou o aluguel escrevendo uma coluna semanal sobre jazz no New Statesman - com o pseudônimo de Francis Newton (textos depois reunidos no livro História Social do Jazz). Em 1962, em sua segunda visita a Cuba, serviu até de tradutor para Che Guevara.
"Não se podia ensinar nada a ele, seria impossível. Eric já sabia de tudo." Assim resumiu Christopher Morris, orientador de estudos em Cambridge, quando indagado a respeito do jovem Hobsbawm: daí começou a carreira ininterrupta de um historiador instintivamente poliglota e cosmopolita em todas as suas referências e um dos raros representantes de uma geração que teve o privilégio de ser, ao mesmo tempo, testemunha e intérprete dos últimos 90 anos da história mundial.
Nas décadas de 1930/40, quando se formou, a Inglaterra era o único país onde surgiu uma escola de historiadores marxistas. Talvez porque no rol curricular das universidades inglesas a literatura havia tomado o espaço deixado pela filosofia. É que a geração de Hobsbawm - representada por nomes como Christopher Hill, Edward Thompson e Raymond Williams - adentrou a oficina da história através da paixão pela literatura. O extremo rigor da pesquisa também marcou a obra historiográfica desta geração new left, que se formou no auge do clima ideológico de suspeita da Guerra Fria. Certamente, veio da paixão pela literatura o domínio que estes historiadores tinham da escrita e o motivo pelo qual Hobsbawm tenha se tornado um mestre da prosa inglesa: sem teorizações intrincadas e nenhum traço de narcisismo autocomplacente, ele é dono de um estilo claro, conciso, equilibrando - em doses exatas - distanciamento e engajamento crítico.
"Fui um antiespecialista em um mundo de especialistas, um intelectual cujas convicções políticas e obra acadêmica foram dedicadas aos não intelectuais", escreveu em Tempos Interessantes - livro que virou um paradigma de como deveriam ser escritas todas as autobiografias. Apesar do seu precoce - e nunca explicitamente abandonado - engajamento comunista, sempre assumiu um olhar historiográfico desenraizado e pouco afetivo. Definia-se como "um historiador pertencente a minorias atípicas, imigrante na Grã-Bretanha, inglês entre centro-europeus e judeu em toda parte - sentindo-se anômalo até entre os comunistas", reconhecendo-se apenas na frase definidora que E. M. Forster utilizava para definir um poeta: "Ele ficava num ângulo ligeiramente oblíquo em relação ao universo".
O que também o tornou um pesquisador suscetível a uma versatilidade incomum. Das rebeldias primitivas ao banditismo social, das rebeliões de trabalhadores pobres ao significado do feriado do 1.º de maio, da máfia aos luddistas e às tradições inventadas -, Hobsbawm escreveu sobre os mais diversos temas, revelando domínio dos fatos e surpreendentes interpretações. Sua panorâmica história do "triunfo e transformação do capitalismo", que começa com a dupla revolução - a Primeira Revolução Industrial inglesa e a Revolução Francesa - e termina com a queda dos regimes comunistas na década de 1990 -, tornou-o mundialmente famoso. Traduzido em centenas de países, estes quatro livros - abrangendo da era das revoluções até o breve século 20 - se tornaram parte da bagagem obrigatória não apenas dos estudantes de humanidades, mas de um público bem mais amplo.
Hobsbawm sempre tinha algo importante a dizer e seus posicionamentos foram sempre críticos. Quando caiu o Muro de Berlim, muitos apressadinhos anunciaram e apegaram-se à desacreditada idéia do "fim da história". Francis Fukuyama retocou a maquiagem de um antigo livro de Alexandre Kojève sobre Hegel e colocou em circulação esse diagnóstico vistoso, mas pouquíssimo convincente - que foi solenemente abandonado depois dos eventos tristemente célebres de setembro de 2001. Hobsbawm chegou a dizer que até acreditava no "fim da história" - mas, num sentido bem diferente: é o fim da história tal como a conhecemos nos últimos 10 mil anos. Isto porque, nos primeiros anos do terceiro milênio, as mudanças estão se acelerando num ritmo estonteante, quase impossível de se acompanhar com os olhos, os conceitos - e até com as próprias palavras - que dispúnhamos para compreender o século 20.
Era sempre difícil para um historiador de formação marxista reconhecer, mas o autor de A Era dos Extremos não acreditava em saltos ou mudanças radicais no capitalismo. Nem por isto deixava de assumir uma posição impiedosamente crítica em relação à história mundial. A globalização trouxe consigo uma dramática acentuação das desigualdades econômicas e sociais, tanto no interior das nações quanto entre elas próprias. Embora a escala real da globalização permaneça modesta, seu impacto político e cultural é desproporcionalmente grande e muito mais sensível para os que menos se beneficiam dela. Por outro lado, nos seus últimos escritos e entrevistas, Hobsbawm deixava bastante claro como estávamos enfrentando os problemas do século 21 com um pífio conjunto de mecanismos políticos, flagrantemente inadequados para resolvê-los. Sua defesa dos valores iluministas era intransigente: acreditava que eles constituíam os únicos alicerces que temos para construir sociedades justas, seja qual for o lugar da Terra e para todos os seres humanos. "Quando as pessoas não têm mais eixos de futuros sociais acabam fazendo coisas indescritíveis", escreveu no ensaio Barbárie: Manual do Usuário.
Ele próprio, apesar de "pássaro migratório", como historiador nunca perdeu seu eixo, que sempre foi o marxismo. Suas convicções políticas incluíam a hostilidade a toda forma de imperialismo, tanto das grandes potências que afirmam "estar fazendo um favor às suas vítimas ao conquistá-las, quanto a do homem branco que pressupõe uma superioridade automática sobre as pessoas cuja pele tem outra cor". Mas seu tom só se elevava quando confrontado com as lúgubres perversidades da era stalinista. O episódio da violenta intervenção soviética na Revolução Húngara em 1956 é um exemplo marcante. Certa vez, quando Arthur Koestler - irritado e em alto estado etílico numa tarde emotiva num bar austríaco - lhe cobrou a ausência de posicionamento, Hobsbawm mostrou-lhe uma carta coletiva na qual havia denunciado as atrocidades.
Mais recentemente, o historiador Tony Judt disse que Hobsbawm era admirável em sua fidelidade ao comunismo, mas alfinetou: "Para fazer algum bem no novo século, devemos começar dizendo a verdade sobre o antigo e um historiador do seu quilate não poderia mais se recusar a encarar o demônio e chamá-lo pelo nome: o stalinismo e todos os seus crimes hediondos". Hobsbawm respondeu que as críticas de Judt eram improcedentes, pois em A Era dos Extremos encarava o problema, criticando-o. Retrucou ainda que condenava "aqueles intelectuais anticomunistas que hoje têm apenas uma bandeira única, a de serem exclusivamente anticomunistas, esquecendo-se completamente das ideias pelas quais lutavam". "Judt deseja apenas que eu diga que estava errado - e não vou satisfazê-lo", finalizou Hobsbawm. A polêmica não rendeu, parando nestas tantas cutiladas curtas, até porque logo depois Judt cairia doente e morreria. É pena. Pois o debate poderia se alongar, ao refletir sobre o imenso abismo ético que se abriu entre os intelectuais europeus do "leste" e os "ocidentais" em função da própria história e da experiência de cada um com o comunismo. Abismo que se mantém até hoje.
Perscrutador incansável do seu século, Hobsbawm deixou uma obra que é aula magistral de história contemporânea. Ele sabia ainda, quando necessário, provocar o leitor com tiradas irônicas. Seu relato dos estertores da democracia alemã, no fim da República de Weimar, é resumido numa única frase: "Estávamos no Titanic, e todos sabiam que ele estava batendo no iceberg". Ao discorrer sobre os movimentos estudantis dos anos 1960, ele chegava a argumentar que "a marca distintiva realmente importante na história da segunda metade do século 20 não é a ideologia nem as ocupações estudantis, e sim o avanço do jeans". E, finalmente, ao refletir sobre o poder em geral, sintetiza-o simplesmente pela megalomania, que ele define como "a doença ocupacional dos países e dos governantes que crêem que seu poder e seu êxito não têm limites".
Um humorista inglês brincou, certa vez, definindo a escola de historiadores marxistas de Hobsbawm como os "cavaleiros da távola redonda em busca do perdido Graal". Com a morte de Hobsbawm desaparece um dos mais brilhantes historiadores de nossa época e talvez o último daquela primeira geração de marxistas, para os quais a Revolução de Outubro - uma espécie de Graal - era referência central no horizonte político. Marca também o desaparecimento de um dos últimos historiadores que colaram de tal forma sua trajetória de vida com a história pública, que elas parecem indistinguíveis. "O sonho da Revolução de Outubro ainda está em algum lugar dentro de mim, assim como um texto apagado no computador lá permanece, à espera dos técnicos que o recuperem dos discos rígidos", confessou Hobsbawm. E em lacônica resposta à tirada humorística, concluiu: "Porque se desistirmos do Graal, desistiremos de nós mesmos".
Ao menos na França, Eric Hobsbawn foi tratado em sua morte como em vida - como um maldito. A história da ruptura entre a intelligentsia francesa e o pensador marxista foi escancarada ao longo dos anos 90, quando da publicação seu mais célebre livro, A Era dos Extremos. Seu trabalho foi reconhecido e ganhou conversão "a todas as línguas oficiais da União Européia, salvo uma", como ele dizia. Ganhou ainda versões "nas línguas dos antigos Estados comunistas da Europa central e oriental", em polonês, em checo, em romeno, esloveno, em albanês. Só então, graças à iniciativa de um editor belga e do jornal Le Monde Diplomatique, a tradução para a língua de Rousseau, enfim, aconteceu.
A melhor explicação para a indiferença talvez tenha sido dada por uma revista americana: "O apego, mesmo distante, à causa revolucionária, Eric Hobsbawn o cultiva certamente como um ponto de orgulho, uma fidelidade orgulhosa, uma reação ao tempo. Mas, na França, e neste momento, é difícil de engolir".
A soberba da intelligentsia francesa imperou nesta segunda-feira. Foi necessário que Pierre Laurent, um intelectual de esquerda, viesse a público para uma homenagem ao autor. "Os progressistas perdem um dos seus. Todos aqueles que se interessam pela história do século 20 perdem um grande espírito, um pensamento-mundo." / ANDREI NETTO, DE PARIS