sexta-feira, 14 de outubro de 2011

I- Primeiros passos da luta ambientalista no Brasil II- Sustentabilidade e desenvolvimento ecológico orientado


Entrevista  Porto Gente

  Meio Ambiente


Primeiros passos da luta ambientalista no Brasil 
Texto atualizado em 10 de Outubro de 2011 - 19h25
Vera Gasparetto de Florianópolis/SC
O internauta do Portogente vai conhecer o início da luta Ambientalista no Brasil, que começou no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Porto Alegre, por um dos seus agitadores. Gert Schinke tem 55 anos de idade e há 37 anos é ecologista autodidata. Residente em Florianópolis (Santa Catarina), Schinke, que já foi vereador de Porto Alegre, preside o Instituto Para o Desenvolvimento de Mentalidade Marítima e é membro do Movimento Saneamento Alternativo.
Nesta primeira parte da entrevista, o gaúcho Schinke fala da criação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiental Natural(Agapan), na década de 1970.
Portogente – Como se deu inicialmente a luta em defesa do meio ambiente no Brasil?
Gert Schinke –
 É preciso identificar melhor os diferentes períodos: até os anos 1970; dos anos 1970 até 2000; e o que ocorre na década atual. Até os anos 70, havia pouquíssimas entidades, todas voltadas a questões pontuais (sobre fauna, flora e parques, por exemplo), nenhuma de caráter claramente eco-político que enveredasse na superestrutura institucional e política. Sequer havia as chamadas entidades “guarda-chuvas”, as federativas de âmbito regional e alguma confederativa de âmbito nacional. Depois da década de 1970, impulsionado pela fundação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), que teve entre seus fundadores o já falecido José Lutzenberguer, o movimento ecológico cresceu exponencialmente. Surgiu o “Manifesto Ecológico Brasileiro”, com redação do Lutz, um dos textos mais referenciais. Éramos “uma dúzia de gatos pingados”, mas nosso discurso fazia eco junto à população que começava a sofrer as mazelas da poluição, do desmatamento, da falta de proteção às águas e reservas naturais.


Para Schinke, maior potencial crítico ao sistema capitalista, hoje, vem do movimento ambientalista
Portogente – Em que período começou e quais eram as bandeiras?Minha militância começa em 1975 quando me filiei à Agapan, em plena luta contra a ditadura militar. Ao mesmo tempo, atuava no movimento estudantil, fazendo uma ponte entre os dois movimentos sociais. A maior luta, à época, se deu contra aBorregaard, fábrica de celulose no rio Guaíba, cuja fedentina atormentava Porto Alegre e região.
Portogente – De lá para cá como essa luta evoluiu?O movimento cresceu em tamanho e influência política, mas nem sempre acompanhado de qualidade e objetividade. Nos anos 1990, assistimos a uma enorme fragmentação, resultante da especialização trazida para o debate, combinado com as ingerências políticas de toda ordem. São poucas as entidades ecológicas que ainda conservam uma postura de atuação ampla, voltada à economia, à gestão do Estado, às políticas públicas conexas às questões ambientais, como saneamento e saúde, entre outras. Hoje o debate sobre meio ambiente requer ênfase nas questões econômicas, da energia, da produção, das tecnologias, numa dimensão que tem a política como elo comum. Essa visão é pouco compreendida, e até mesmo combatida pelos que querem ver o movimento ecológico ausente do debate sobre o modo de desenvolvimento e das decisões dos governos. Hoje, o maior potencial crítico ao sistema capitalista provém do movimento ecológico, fato que ocorre no mundo todo em função do desgaste dos partidos políticos.


Sustentabilidade e desenvolvimento ecológico orientado 
Texto publicado em 11 de Outubro de 2011 - 21h42
Vera Gasparetto de Florianópolis/SC
Na segunda parte da entrevista, o historiador e ambientalista Gert Schinke, gaúcho de Montenegro, mas hoje morador da ilha de Florianópolis (Santa Catarina), fala sobre a diferença entre sustentabilidade e “desenvolvimento ecologicamente orientado”.
Portogente – As pessoas e as empresas estão realmente criando consciência sobre a necessidade da defesa do meio ambiente?
Gert Schinke –
 Em parte sim, em parte não. Há, sem dúvida, mais consciência, mas esta não se traduz em ações práticas no âmbito individual, e coletivo menos ainda, tão pouco em uma cidadania que cobre ações governamentais mais urgentes e efetivas, a exemplo do que acontece com o saneamento básico, com o onipresente desmatamento, invasão de APPs [Áreas de Preservação Permanente]. No que diz respeito à reciclagem, estamos falando disso há 30 anos, e, com raras exceções, ela não passa de 5% na grande maioria dos municípios brasileiros, prova da falta de vontade política para avançar nessa e em outras áreas, como também na criação de novos parques naturais, para melhor “blindar” a natureza.
Portogente – O que é a sustentabilidade?
Esse conceito está ligado à questão do modo de produção, o capitalismo globalizado, no mundo de hoje. Está claro que é insustentável em longo prazo, evidenciado pelo cálculo incontroverso de que a humanidade precisa de vários planetas para sustentar o modo de vida atual. Diz-se que dois “apenas”. Temos que consumir menos de tudo, energia, comida, bugigangas, mas isso, porém, conspira contra o capitalismo, que vive sob o signo do crescimento infinito. Nós ecologistas dizemos que a verdadeira sustentabilidade só ocorrerá quando o modo de produção adotar a fórmula do “desenvolvimento ecologicamente orientado”. O tal “desenvolvimento sustentável”, jargão onipresente e hegemônico em quase todos os setores sociais, se mostrou claramente aquém para produzir as medidas necessárias para reverter o processo acelerado de degradação ambiental e o consumo irreversível dos insumos que sustentam a orgia material hoje reinante para uma minoria da população mundial. O total desequilíbrio é parte indissociável desse cenário ultrajante e desumano. Acordos internacionais, como a limitação dos gases do efeito estufa, entre outros, parecem cada vez mais utópicos.
Portogente – Qual sua opinião sobre o novo Código Florestal?Sobre o Código Florestal os ecologistas se aliam aos que defendem a moldura da lei atual, sem, no entanto, esquecer de trazer aprimoramentos ao projeto, mas nunca no sentido menos restritivo, enquanto os adversários do atual Código querem descaracterizá-lo, enfraquecê-lo, abrindo as brechas para inúmeras ações predatórias, na contramão do que o mundo clama nos dias atuais: mais conservação natural e maior proteção aos recursos.

 Veja o vídeo:
O Consumismo

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