Florianópolis, 17.12.12
Caros companheiros vereadores;
Como um dos bilhões de
‘viventes’ do planeta, e diante do dramático cenário que nele se desenrola, entendo
mais que oportuno externar algumas preocupações a vocês em relação à cidade na
qual vivo há vinte anos e que tanto amo. Soma-se a isto, o fato de vocês
portarem imensas expectativas quanto às mudanças que se fazem necessárias de
forma urgente nesse cenário que combina o desastre, o burlesco, o arcaico e o
anti-republicano que resiste em desaparecer, por vezes até o inexplicável aos
nossos olhos e à nossa consciência, ao observarmos como é conduzida ‘a coisa
pública’ em nossa cidade.
Não tenho ilusões quanto aos
limites políticos impostos à atuação transformadora por parte de uma
instituição voltada, acima de tudo, a manter o status quo, sistema no qual ela
trabalha pari passo a serviço dos poderosos. Porém, fustigar esse limite,
explorar as brechas para a transformação disso que aí se nos apresenta, é
simbolicamente fundamental como exemplo político a ser dado, a despeito da
prática reinante tão repudiada dos ‘acordos de alcova’, das negociatas
intramuros, da mediocridade na atuação legislativa centrada em homenagens
burlescas e provincianas, do ‘fazemos qualquer negócio’ que faz da grande
maioria dos atuais parlamentares meros despachantes de empresas, assim como das
casas legislativas meras extensões do poder executivo, em total distorção ao
papel de um e de outro.
Para quem, como eu, ‘viveu o
inferno’ resistindo à pressão da especulação imobiliária durante mais de seis
anos no processo do Plano Diretor Participativo sob a condução de ‘Dario Berger
& associados’, espera-se que vocês deixem de lado suas ‘propostas pessoais’
e defendam com unhas e dentes as propostas populares legitimadas pelas
audiências públicas distritais deliberativas que desenharam um perfil bem
diferente daquele forjado nos corredores dos órgãos públicos municipais e de
entidades empresariais do setor imobiliário e comercial da cidade. Espera-se
que assumam as propostas para o processo do PDP defendidas pela ‘bancada
popular’ do Núcleo Gestor Municipal, colegiado este que desejo ver funcionar da
forma como agora está estruturado até a sanção ao projeto de lei aprovado na
Câmara Municipal por parte do futuro prefeito. E, paralelamente a essa atitude,
espera -se que rejeitem resolutamente qualquer ‘emenda de zoneamento urbano’
que venha a ser apresentada no período em que o projeto do PDP esteja em
discussão, de forma a evitar que a cidade se deforme ainda mais do que já se
deformou no nefasto período de seis anos em que ficou sem o ‘defeso amplo’,
entregue à rapina da especulação imobiliária em pleno processo de revisão do
Plano Diretor. Aviltamento anti-republicano sob a égide do lasseiz-faire do ‘mercado
do concreto’ e do ‘estoque de metro quadrado’.
Espero que, diante de tantos
‘planos setoriais’, muitos dos quais fantasmagóricos, antidemocráticos, quando
não visivelmente inúteis, antes de votá-los vocês os remetam para uma discussão
verdadeiramente democrática, com a garantia que tenham ampla participação
popular, e rejeitem todos aqueles que se apresentam com essa roupagem de falsa
democracia, aquela maquiada pela dinâmica burocrática imposta por leis maiores,
tais como aquelas que obrigaram as prefeituras a apresentar determinados
‘planos’ em certos prazos, a exemplo do Plano Municipal Integrado de Saneamento
Básico e outros, nenhum dos quais fruto de uma ampla e democrática participação
popular em nossa cidade. De falsa
democracia estou farto !! Quero bem mais que o mingau do faz-de-conta que
perpetua processos viciados, quando não manifestamente contrários ao interesse
público, onde prepondera o interesse econômico de poucos setores sobre toda a
sociedade.
Espero que vocês não fiquem
impassíveis ou omissos em relação às barbaridades que acontecem na própria
instituição Câmara Municipal da qual serão membros, e na qual se perpetuam
todas as mazelas corporativas que tanto deformam o poder legislativo em todos
os níveis no país inteiro. Espero que procurem desvendar a ‘caixa-preta’ dessa
corporação que acolhe entre seus quadros funcionais um expressivo número de funcionários
com altíssimos rendimentos, muitos dos quais na exótica categoria de
‘fantasmas’, aqueles privilegiados ‘nobres’ em nossa sociedade aos quais é dado
o direito de receber do poder público sem trabalhar.
Estou muito curioso para
saber quem são esses nobres e quanto recebem para ‘fazer nada’ todo santo mês,
todo santo ano, toda década, até a ‘conquista’ da aposentadoria. Todo salário
que um ‘fantasma’ consome, significa a falta de recurso para uma coisa muito
mais nobre para a sociedade, como estações de tratamento de esgotos, como
escolas melhor equipadas e professores melhor pagos do que as migalhas que
recebem hoje. Todos sabem disso há muito tempo e tudo permanece como está há
muito mais tempo ainda. Estou farto de ‘mais
do mesmo’, de CPIs para inglês ver, de inquéritos administrativos que não
levam a nada, quando não alimentam ainda mais o descrédito que o povo já tem em
relação às instituições do Estado. Espero que, diante de fatos, vocês tenham a
coragem de denunciar sem titubear, de requerer as investigações para abrir as
inúmeras ‘caixas-pretas’ que compõem o fausto menu a serviço das quadrilhas
incrustadas, tais as cracas nos costões da ilha, na Prefeitura, pelo menos na
Prefeitura.
Espero que vocês cobrem
resolutamente do futuro Prefeito, os compromissos que ele assumiu no âmbito da
‘Plataforma Ecológica da FEEC’, os quais, se cumpridos em sua gestão, significarão
um enorme avanço em vários setores para nossa cidade. Ao afinarem o mandato com
uma visão ecológica, mesmo que em alguns casos conflitando com posições
partidárias, movidas que são muitas vezes por disputas mesquinhas e visões
imediatistas, significa, acima de tudo, manter coerência com aquilo que foi
assumido pelos próprios candidatos majoritários de vocês durante a campanha
eleitoral. Coerência entre discurso e prática é mais que necessário nos dias de
hoje.
Mas não pensem que os
discrimino ao não fazer estas mesmas cobranças a outros vereadores eleitos.
Lastimo profundamente que o povo dessa cidade não elegeu nas últimas
legislaturas sequer um pequeno grupo, por menor que fosse, de vereadore(a)s à
altura dos desafios que a realidade impõe transformar em nossa cidade, sendo
que as poucas almas que se apresentaram nos últimos anos me decepcionaram tanto
que perdi a esperança de contar com elas. Houve, é certo, raríssimas exceções.
Raríssimas.
E, por último, peço a vocês
jamais me tomar por uma pessoa desprovida de senso crítico, que não sabe
analisar, perscrutar, discernir entre a atitude titubeante, maquiadora, dissimuladora
da verdade, daquela atitude resoluta, coerente com seu discurso de anteontem,
corajosa e firme. Assim como eu, peço jamais tratarem meus concidadãos como rebanho
de ovelhas tutelado por diligentes pastores, como se observa em certos grupos
sociais e partidos, obedientes ao menor comando de seus lideres, robôs
condicionados que são por mentalidades dogmáticas e idiossincrasias sectárias
que os mantêm aprisionados em seus mundinhos. Inexoravelmente reacionários,
tanto os primeiros quanto os últimos.
Espero, enfim, vê-los como
sendo aqueles poucos representantes que portam as bandeiras de um grupo bem
maior de pessoas que almeja uma profunda e radical transformação social, econômica,
cultural e ética em nossa sociedade, orientada por um olhar verdadeiramente
ecológico, alter-mundista, igualitário e libertário, compromissados de verdade
para com um futuro melhor para nossa gente e toda a vida no planeta, pois, ‘a
vida vem sempre em primeiro lugar’.
De minha parte irei
fiscalizar e cobrar, e torço de coração para não viver nova decepção.
Gert
Schinke
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