terça-feira, 27 de agosto de 2013

Deslizamento da área de Fukushima em direção ao oceano?

20 de agosto de 2013
Texto enviado por Marc Humber, ex-diretor do Centro de Cultura Francesa em Tokio.

Os reservatórios primeiro, os reatores 1 a 4 em seguida, depois o mar. Quando terminava uma nota informativa sobre a situação nuclear no Japão, vejo a atenção pública japonesa e internacional novamente atraída por (foto do Japan Times) um incidente, de fato um “pequeno” incidente tendo em vista a ameaça real.

Na verdade, a ameaça real vem do sub-solo da área da usina que está se tornando um verdadeiro pântano radioativo à beira mar. Se nada for feito, esse pântano vai se estender pouco a pouco ao longo de quilômetros à beira e dentro do mar. Fragilizando as fundações do local, ele carrega o risco, em caso de terremoto, de um deslizamento de terra capaz de carregar toda a usina ou parte dela para o oceano.

O incidente sobre o qual a atenção está focalizada hoje tem a ver com uma das partes constituintes desse pântano. TEPCO acaba de reconhecer o fato de que 300m3 de água altamente contaminada escaparam de um dos 900 reservatórios de estocagem e chegou ao mar. Esses reservatórios estão alojados em grandes bacias de concreto, com as beiradas de 30cm de altura (ver foto) permitindo recuperar a água, se elas escaparem – a estocagem é, em princípio, temporária e os reservatórios, utilizados durante os últimos dois anos, não são garantidos por período maior de cinco anos. Válvulas permitem remover a água da chuva das bacias de concreto. Não se sabe exatamente de onde sai o vazamento – como a radioatividade está muito elevada, não se faz uma busca demorada – recolhe-se o resto para colocá-lo em um outro reservatório. TEPCO lamenta (não o acidente mas) a ansiedade causada à população. Sabe-se também que ao menos 300m3 de água contaminada chegam ao mar a cada dia.

Para a TEPCO, o acidente que a NRA declara às autoridades internacionais não é especialmente importante (trata-se do quarto vazamento de um reservatório, mas o primeiro detectado tão tardiamente) e é verdade que há aspectos mais graves, como apontado acima (e explicado no meu texto). Qual seria a situação se numerosos reservatórios passassem a vazar, qual é futuro desse mar radioativo constituído por esses 900 reservatórios? Por que tanta água contaminada? Porque os coriums dos reatores 1 à 3 devem ser resfriados, porque isso não basta e que é preciso injetar azoto sendo que 20% tornam-se radioativos e se espalham na atmosfera. Porque a água injetada torna-se radioativa, e que uma grande parte não é recuperada, vai chegar à camada freática e, em seguida, ao mar. Ela caminha através não somente dos vazamentos dos encanamentos, dos sub solos e das trincheiras abertas pela TEPCO, mas certamente também através de vazamentos das estruturas de concreto sob os reatores que os coriums deslocaram, no mínimo criando fendas que se alargaram e continuam crescendo, fazendo com que a camada freática entre em contato com os reservatórios dos reatores.

Nada é feito porque a TEPCO, as autoridades japonesas e internacionais, se recusam a considerar que se trata da situação com maior veracidade. Reconhecê-la seria desencadear a ansiedade do público e bem provavelmente relançar a desconfiança se não a hostilidade ao nuclear. Aos responsáveis parece preferível minimizar, negar a ameaça real que significa a usina de Fukushima. Enfrentar corretamente a situação exigiria trabalhos e despesas faraônicos e deslocar a população para colocá-la em segurança. Esse“negacionismo” nuclear pode conduzir a uma catástrofe planetária.


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