Texto
enviado por Marc Humber, ex-diretor do Centro de Cultura Francesa em Tokio.
A consultar emhttp://www.altersocietal.org/fukushima.php
Os reservatórios primeiro, os reatores 1 a 4 em
seguida, depois o mar. Quando terminava uma nota informativa sobre a situação
nuclear no Japão, vejo a atenção pública japonesa e internacional novamente
atraída por (foto do Japan Times) um incidente, de fato um “pequeno” incidente
tendo em vista a ameaça real.
Na verdade, a ameaça real vem do sub-solo da área
da usina que está se tornando um verdadeiro pântano radioativo à beira mar. Se
nada for feito, esse pântano vai se estender pouco a pouco ao longo de
quilômetros à beira e dentro do mar. Fragilizando as fundações do local, ele
carrega o risco, em caso de terremoto, de um deslizamento de terra capaz de
carregar toda a usina ou parte dela para o oceano.
O incidente sobre o qual a atenção está focalizada
hoje tem a ver com uma das partes constituintes desse pântano. TEPCO acaba de
reconhecer o fato de que 300m3 de água altamente contaminada escaparam de um
dos 900 reservatórios de estocagem e chegou ao mar. Esses reservatórios estão
alojados em grandes bacias de concreto, com as beiradas de 30cm de altura (ver
foto) permitindo recuperar a água, se elas escaparem – a estocagem é, em
princípio, temporária e os reservatórios, utilizados durante os últimos dois
anos, não são garantidos por período maior de cinco anos. Válvulas permitem
remover a água da chuva das bacias de concreto. Não se sabe exatamente de onde
sai o vazamento – como a radioatividade está muito elevada, não se faz uma
busca demorada – recolhe-se o resto para colocá-lo em um outro reservatório.
TEPCO lamenta (não o acidente mas) a ansiedade causada à população. Sabe-se
também que ao menos 300m3 de água contaminada chegam ao mar a cada dia.
Para a TEPCO, o acidente que a NRA declara às
autoridades internacionais não é especialmente importante (trata-se do quarto
vazamento de um reservatório, mas o primeiro detectado tão tardiamente) e é
verdade que há aspectos mais graves, como apontado acima (e explicado no meu
texto). Qual seria a situação se numerosos reservatórios passassem a vazar,
qual é futuro desse mar radioativo constituído por esses 900 reservatórios? Por
que tanta água contaminada? Porque os coriums dos reatores 1 à 3 devem ser
resfriados, porque isso não basta e que é preciso injetar azoto sendo que 20%
tornam-se radioativos e se espalham na atmosfera. Porque a água injetada
torna-se radioativa, e que uma grande parte não é recuperada, vai chegar à
camada freática e, em seguida, ao mar. Ela caminha através não somente dos
vazamentos dos encanamentos, dos sub solos e das trincheiras abertas pela
TEPCO, mas certamente também através de vazamentos das estruturas de concreto
sob os reatores que os coriums deslocaram, no mínimo criando fendas que se
alargaram e continuam crescendo, fazendo com que a camada freática entre em
contato com os reservatórios dos reatores.
Nada é feito porque a TEPCO, as autoridades
japonesas e internacionais, se recusam a considerar que se trata da situação
com maior veracidade. Reconhecê-la seria desencadear a ansiedade do público e
bem provavelmente relançar a desconfiança se não a hostilidade ao nuclear. Aos
responsáveis parece preferível minimizar, negar a ameaça real que significa a
usina de Fukushima. Enfrentar corretamente a situação exigiria trabalhos e
despesas faraônicos e deslocar a população para colocá-la em segurança.
Esse“negacionismo” nuclear pode conduzir a uma catástrofe planetária.
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